Professora surda defende tese de Doutorado na Unioeste Foz

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A professora Andrea Mazacotte defendeu na tarde dessa quarta-feira (8) a sua tese “Saberes de Docentes sobre a educação de Surdos em Contexto Multilíngue de Fronteira”, no Programa de Doutorado em Sociedade, Cultura e Fronteiras, da Unioeste, campus Foz do Iguaçu. Foi a primeira surda a defender tese na Unioeste.

Andrea é professora da Unioeste desde 2010 e tem, desde o ensino fundamental, uma caminhada de luta pela inclusão das pessoas surdas no ensino. No doutorado, foi orientada pela professora Isis Ribeiro Berger, com coorientação de Tânia Aparecida Martins.

Outra doutoranda surda, Nahla Yatim, deve defender tese em Abril de 2026. Nahla está no mesmo programa de Pós-Graduação que Andrea e pesquisa o tema “Ensino de Libras para ouvintes em contexto de fronteiras no ensino superior”. Ela será a primeira surda estudante da Associação de Pais e Amigos dos Surdos Foz do Iguaçu (Apasfi) a concluir doutorado.

Inclusão
Com 46 anos, Andrea nasceu em São Paulo e fez lá ensino fundamental em uma escola particular com bolsa, em uma época na qual não se falava sobre inclusão. Filha de um gerente de restaurante e uma costureira, contou muito com a determinação da mãe para ter um bom ensino. “Estudei em escola regular e meus professores tiveram de enfrentar ‘barreira’ para entender como me ensinar o conteúdo na sala de aula. Os professores criaram estratégicas, tentaram criar método de ensino para que eu assimilasse o conteúdo”, conta.

Morando em Foz do Iguaçu desde os 13 anos, teve a sorte de encontrar professores e colegas que a ajudavam: fazia leitura labial, lia, tirava dúvidas com os professores ou amiga. No Ensino Médio, pela primeira vez recebeu uma “educação inclusiva”, com colegas surdos, cadeirantes e Intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras).

No último ano do Ensino Médio, em 2002, inscreveu-se para banca especial da Prefeitura de Foz do Iguaçu para dar aulas e só ela passou. Tomou posse em 2003 como a primeira professora surda concursada no Paraná. Ainda 2003, iniciou a graduação em Normal Superior em uma universidade particular. Lá, de novo estudou sem intérprete de Libras, lutando por seus direitos. Tinha outro surdo estudando Educação Física e os dois recorreram ao Ministério Público para alcançarem na Justiça o direito a ter um intérprete de Libras, o que demorou, chegando apenas na época da conclusão do curso.

“Consegui acompanhar graças à minhas amigas e um amigo, que me ajudavam a traduzir a voz do professor no papel. O professor falava, colegas ouviam e anotavam, eu lia no papel, quando tinha dúvida ou comentário escrevia no papel, pedia para minha amiga ler para professora. O papel se tornou como meu intérprete”.

Em 2006, quando a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) abriu vestibular com prova em Libras, a primeira do Brasil, ela foi aprovada. “Na minha sala só nos comunicávamos em Libras e era difícil precisar ter intérprete. Só tinham duas alunas ouvintes. Pela primeira vez curso Letras Libras especial para nossa comunidade!”

Passou no concurso da Unioeste, em 2010 para ser professora de Libras nos cursos de licenciatura, que atendem à demanda do Decreto Federal nº 5 626, de 2005. Ela é apoiada pela Programa Institucional de Ações Relativas às Pessoas com Necessidades Especiais (PEE) da Unioeste, que acompanha o processo de socialização do saber sistematizado para pessoas que precisam de algum tipo de atendimento especial. A professora surda é acompanhada por dois tradutores de Libras, que transmitem aos alunos o que ela precisa comunicar, de forma simultânea.

Condições especiais
Implementado em 1997, o PEE cumpre o papel de permitir acessibilidade a pessoas com deficiência e outras necessidades de atendimento especial. Atende hoje em Foz do Iguaçu 66 pessoas, não apenas com deficiência, mas que precisam de uma sala silenciosa para fazer prova, por exemplo, com realização de bancas especiais. É hoje referência na atuação com acadêmicos e pioneiro no apoio a docentes. Para entrar em contato, o telefone é (45) 3576-8176, e-mail peeunioestefoz@gmail.com

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