Evento reuniu estudos acadêmicos e vivências da comunidade voltadas à preservação da história da cidade
Ao longo de três dias, pessoas da comunidade e outras ligadas ao poder público, universidades, Executivo e Judiciário se reuniram para trocar experiências e estudos envolvendo a preservação da história de Foz do Iguaçu, durante o 1.º Seminário de Valorização do Patrimônio Cultural.
Para Pedro Louvain, presidente do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural, organizador do seminário, o evento – realizado no prédio da antiga Câmara Municipal, hoje ocupado pela Estação Cultural de Artes Visuais – tem um valor especial. “Esse prédio foi o sétimo tombamento realizado na cidade. Estar aqui dentro realizando o encontro é histórico.”
A proposta foi lançar luz a projetos e ações voltados à preservação e resgate da memória histórica do município. “Todos com algo a dizer, compartilhar, experiências interessantes em relação ao patrimônio cultural. Além disso, nossos vizinhos de Puerto Iguazú também integraram o evento, para que pudéssemos conhecer um pouco do outro lado do rio e a arqueologia no baixo Iguaçu, além de experiências do patrimônio histórico do século 20, profissionais e entusiastas do patrimônio e da memória”, disse Louvain.
Entre os convidados estava o juiz de direito Dr. Rui Ferreira, coordenador do Grupo de Memória da Justiça Federal/Paraná. “Parece que a sociedade de uma forma geral está tomando conhecimento de sua história. Vivo aqui há 28 anos, nunca tinha percebido que a cidade se importasse com seu patrimônio e sua história, e agora percebe-se esse movimento, como os tombamentos que são demonstração de carinho pela cidade”, comentou. Para ele, a iniciativa também ajuda a difundir a ideia da importância da preservação como forma de salvaguardar a memória de um povo.
O chefe do Parque Nacional do Iguaçu, José Ulisses dos Santos, também integrou o primeiro dia do encontro e salientou a necessidade da valorização da história de Foz do Iguaçu. “Antes de grandes eventos como Itaipu e PNI, já havia uma história riquíssima de povos que aqui viveram, e essa história precisa ser contada. Tenho percepção que os iguaçuenses estão cobrando respeito e valorização de seu patrimônio, e isso é uma necessidade de afirmação de identidade cultural. Pertencemos a um lugar que tem história.”
Santos lembrou que o Parque Nacional abrigou o primeiro atrativo construído na cidade, o Museu do Parque Nacional, inaugurado na década de 1940. “Lá, temos livros de memórias onde visitantes relatam como era bonito esse museu, com animais taxidermizados, coleções de rochas, histórias de povos originários e de pioneiros. O parque conta a história do turismo da cidade. A história do parque está intimamente ligada à história de Foz. Antes, os olhares eram voltados à grandiosidade, mas a história do povo ficava escondida, ofuscada. Agora, acostumados com isso, começamos a pensar no futuro, de incluir pessoas da cidade e valorização da nossa história.”
A jornalista pioneira Rita Araújo, criadora do projeto Causos de Foz, promove o resgate histórico por meio de rodas de conversa com pioneiros da cidade. As reuniões acontecem a cada 15 dias e reúnem moradores para troca de experiências e histórias. “Compartilhar as histórias e manter a memória viva. Eles gostam dessa interação, de estar com o grupo e de dividir esse passado. Eles estiveram lá para contar, são os pioneiros da nossa cidade”, ressaltou.
Da universidade, um inventário arbóreo, coordenado pelo geógrafo Diego Morais, contém um estudo detalhado sobre a área da casa de Harry Schinke. “Com drone, fizemos um inventário das árvores de grande e médio porte e depois de arbustos menores, com diferentes espécies e outros potenciais. Mapeamos com refinamento e fechamos inventário botânico”, revelou Morais, que contou com ajuda de acadêmicos.
O estudo, segundo ele, traz um ganho cultural por apresentar um potencial de exploração turística. “Em menor escala, evidente, mas há um potencial muito rico de observação desse espaço. Ir até o Monjolo, observar o Rio Paraná, é como uma pintura. O potencial de conhecimento dessas árvores valoriza ainda mais essa área.”
A casa onde morou Harry Schinke foi uma das conquistas recentes do tombamento municipal. “Reconhecer esse patrimônio e essa valorização é também possibilitar que outras áreas dentro da cidade possam ter esse projeto replicado, oferecendo um atrativo a mais, um espaço de lazer.”
Por fim, Elisiana Kleinsmith, parecerista de instrução processual dos tombamentos, falou sobre a importância do reconhecimento da história e da memória. “Patrimônio é um documento histórico. Necessitamos saber dessa origem para que se sinta parte da identidade”, comentou ao relatar o reconhecimento dessa história. “A história da cidade é riquíssima. Muita gente que passa pelo centro onde estamos não tem conhecimento, é preciso resgatar esses saberes.”
O evento foi encerrado com uma visita técnica ao Parque Nacional do Iguaçu, ao patrimônio móvel apresentado por Pedro Louvain, e imóvel, por Elisiana, local de encontro para salvaguarda e conservação do patrimônio cultural municipal.